sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Sobre evangélicos e política!

Havia um tempo em que na cosmovisão evangélica brasileira falar em política era tratado no jargão evangeliquês como algo "mundano", ou seja, associado ao pecado. A síntese era que crente não se metia em política e ponto final. Desde a criação da bancada evangélica em 1988, mesmo ano da promulgação da Constituição cidadã que mostrava os novos tempos e ventos da redemocratização, tudo mudou. O crescimento dos evangélicos desde então tem sido perceptível. Mas, o crescimento sobretudo de pentecostais e neopentecostais que representam cerca de 70 % dos evangélicos brasileiros ajudou a quebrar o paradigma de que evangélicos não se mete na política. A influência da neopentecostalização no campo evangélico brasileiro com a tão propalada teologia da prosperidade (Health and Wealth Gospel)mudou o discurso político radicalmente. O centro da mensagem passou à ser "Nascemos para ser cabeça e não cauda". Em termos políticos isso se transmitiu na ideia da maior representatividade política possível para conseguir concessões públicas de TV e rádios para a criação de verdadeiros impérios midiáticos, ocupação dos espaços públicos, como na Marcha para Jesus, bandeiras morais como a questão de ser contra o aborto e o homossexualismo. Criou-se uma obsessão ter um presidente evangélico. Anthony Garotinho na candidatura presidencial de 2002 foi um tentativa. Marina Silva, em 2010, embora evangélica declarada, não instrumentalizou o chamado "voto evangélico" com esse intuito, mas mesmo assim teve quase 20 milhões de votos, uma enormidade, considerando o minúsculo partido que era filiada: o PV.
Escândalos, como o envolvimento de diversos deputados evangélicos em 2005 no mensalão também fazem parte das relações recentes entre evangélicos e política. Em ano de eleição, infelizmente ao meu ver alguns erros tem sido percebido e gostaria de elencá-los para debate.
1) A valorização exagerada do carisma ao invés da vocação para política e do caráter. O uso do carisma para conseguir votos foi em grande medida apoiado por apresentadores evangélicos de programas de rádio e TV por possuírem maior visibilidade dentro do público e eleitorado evangélico. Raríssimos candidatos evangélicos tem uma história nas comunidades de bairro, sindicatos, empresas, ONG´s, mas entram como moeda de troca para aumentar o poder de influência das denominações evangélicas;
2) A mistura entre púlpito e palanque. Usualmente muitos candidatos usam e abusam do título de pastores, bispos, etc.... buscando evidenciar que são homens de Deus, e, portanto, dignos de serem votados pelos evangélicos. Existe algo errado aqui. Usar o púlpito como palanque eleitoral para coagir ao povo votar num candidato evangélico constitui-se um erro grave. É necessário aqui se decidir: ou se é pastor ou se é político. Usar da Bíblia para obter vantagens eleitorais é usar da boa fé das pessoas em benefício próprio. Gol contra!;
3) A perda do sentido político enquanto "bem público". Os representantes políticos devem governar para o bem comum, e não para o seu feudo. Se os médicos evangélicos foram atender apenas pacientes evangélicos; professores evangélicos foram lecionar apenas para alunos evangélicos, etc... teremos apenas uma ideia de gueto, do bem privado dentro da esfera apenas dos evangélicos e não do "bem comum", sentido etimológico da palavra "política", que vem da "polis" grega, as cidades-estados.

Desejo-lhe uma boa reflexão!

4 comentários:

Memórias das Assembleias de Deus disse...

Eduardo,

Percebo também no caso da minha denominação (Assembleia de Deus), que até na política o nepotismo se estende. Muitos candidatos para "representar" a igreja, são escolhidos entre as famílias pastorais. Ultimamente, me parece que somente os familiares dos líderes da AD é que possuem "chamada" para essa "missão" de enorme relevância para a igreja.

Abraço!

Dassa disse...

Oi Mario Sérgio! Uma boa reflexão é o livro "Cristianismo e política" de Robinson Cavalcanti.

Memórias das Assembleias de Deus disse...

Oi Dassa!

Já li esse livro sim, e é uma ótima indicação pra se entender um pouco mais mosso contexto político eclesiástico.

edpaegle disse...

Mario Sérgio, como coloquei no blog fiquei simplesmente chocado com a morte do Robinson Cavalcanti, alguns dias depois de ter comentado sobre o livro. Por um engano, entrei com o link "dassa" e havia postado sobre o livro "cristianismo e política" no dia 25/02 e ontem ele faleceu assassinado.