sexta-feira, 20 de abril de 2012

Os coletores de lixo e a invisibilidade social

Nestes tempos midiáticos, aonde paradoxalmente ficar tão difícil achar algo que vale à pane investir o seu tempo na TV, ontem tive uma grata surpresa. Assistí à um programa do SBT chamado "Conexão Repórter" que tratava sobre os garis ou coletores de lixo (eles não gostam de serem chamados pejorativamente de lixeiros). Interesse perceber nas ruas ou nos caminhões que eles trabalham, a sua invisibilidade social. As pessoas em geral evitam falar com eles ou ajudá-los. Um gari comentou que uma moça afirmou "Que era para limpar bem a calçada, para que o cachorro dela não comesse o lixo". Resumindo: na sua ótica, o cachorro valia mais do que um ser humano. Um produtor do SBT passou alguns dias de gari, recebeu instruções, mas não aguentou a pesada jornada de trabalho que envolvia em média 21 Km de corrida, além de levar um elevado peso do lixo até o caminhão. O desrespeito é patente. Motoristas estacionam o carro na calçada e reclamam de ter que tirá-lo para o caminhão passar. Pessoas na rua se negam à falar com os garis quando eles perguntam algo e só se aproximam se for para pedir informações na rua. Raríssimas são as exceções de pessoas que dão água e comida para esses trabalhadores que recebem o salário de r$ 800,00 em São Paulo, sujeitos à se cortarem com as garrafas e as lâmpadas, xingados e ignorados pela população. Cerca de 83% dos garis que trabalham em S. Paulo são nordestinos. Uma dissertação de mestrado e depois tese mostrou a invisibilidade social desses trabalhadores. O pesquisador e acadêmico se vestiu com uniforme de gari para analisar as situações e foi sumariamente ignorado pelos seus colegas universitários, o que mostra o desprezo de muitos. Recentemente, o jornalista Boris Casoy comentou sobre uma reportagem de Feliz Natal, ironicamente, lembrando que os garis desejavam feliz Natal, na menor escala social, revelando desprezo por esses trabalhadores. Pediu desculpas depois. Filmes como "Lixo Extraordinário" e "Cidade das Flores" fizeram sucesso revelando a questão do lixo e os aspectos sociais envolvidos. Este último, pode ser facilmente visualizado no youtube. Hoje, recolhí papel aqui em casa que não estava usando e levei na reciclagem aqui perto de casa. Quase 40 Kg e recebí r$ 0,75 pelo trabalho. Fiquei pensando na quantidade absurda de material reciclado que os recicladores precisam recolher para ter uma vida digna. Fiquei pensando de que nós não valorizamos os garis. Lembrei da greve dos garis na cidade de Napóles (Itália), que o transformou em caos. Vivemos numa sociedade interdependente, onde um depende do outro, apesar do individualismo reinante que cega a nossa visão e entendimento. Já estava escrito "O trabalhador é digno do seu trabalho". Valorizamos mais tanto os garis quanto os recicladores. A sociedade e a natureza agradecem!

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