domingo, 9 de maio de 2010

Pescaria do final de semana !

Talvez o título do blog te induza à pensar que fui pescar no final de semana ou coisas do tipo. Não, não é nada disso. Primeiro, porque pescar não é a minha praia e segundo, pelo fato de não ter paciência para esse tipo de atividade. A minha "pescaria" foi de outro tipo. Busquei "pescar" notícias que me chamaram atenção no domingo. Aproveito, que muitas vezes, os jornais de domingo tem um formato diferenciado com reportagens especiais e às vezes, uma espécie de resumão dos fatos da semana.

Pescaria 1 - Educação ou mercadoria?

Leio no caderno cotidiano da Folha de SP, uma manchete no mínimo espantosa. Está escrito lá "Escola de R$ 1.700,00 aconselha aula particular." A reportagem falava de uma escola paulistana, que além de cobrar essa mensalidade absurdamente alta, e indicava professores para aula particular, com cobranças acima de r$ 70,00 por hora. O que me acalmou foi o fato de César Callegari (presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação) dizer que "recomendar um professor particular e às vezes indicar esse próprio professor, não é correto. Além de ser eticamente condenável. Se a escola diz que não pode, ela que desista de ser escola porque ela tem obrigação de fazer isso." Particularmente não vejo problemas em aulas particulares, mas a questão não é essa. A questão é que a escola ao indicar professores, terceiriza a educação e se isenta de uma responsabilidade que é sua, criando um mercado à parte da sua mediocridade. E sem dúvida, transforma essa incompetência, na mercadorização da educação em aulas particulares. Felizmente, na minha curta carreira de magistério, lembrei de um professor de matemática, que por questões éticas, se negava a dar aulas particulares tanto para os seus alunos, quanto para de todo o colégio. Não tudo está perdido!

Pescaria 2 - Tran$porte coletivo em Floripa!

Ano vai, ano vem, e o problema do transporte coletivo volta à tona em Floripa. Reportagem do DC afirmara que neste domingo (que presentão para o Dia das Mães, hein!!) ocorreu o aumento das passagens. As passagens de cartão passaram de r$ 2,20 para r$ 2,45, em dinheiro de r$ 2,80 para R$ 2,95, a social (cartão) r$ 1,50 para r$ 1,60 e social (dinheiro) r$ 1,80 para r$ 1,95. É inegável que o aumento dessas tarifas tem um elevado impacto financeiro sobre as famílias, ainda mais numa cidade que não adotou outras formas de transporte combinados. Onde estão as ciclovias? Por que não temos um transporte marítimo numa cidade litorânea? Além disso, a discussão sobre o transporte coletivo foi apenas entre patrões e os empregados. Por que não se criar representantes dos usuários nas negociações, já que eles são os maiores interessados no sistema. Dário Berger foi essa a sua promessa de campanha de "abrir a caixa preta do sistema". Na verdade, os valores que citei são maiores, já que 5% do dinheiro vem da prefeitura, ou melhor, é subsidiado por nós que pagamos impostos. Dinheiro da prefeitura é um ótimo eufemismo para dizer que nós pagamos mais! Outra pergunta, porque não existe concorrência entre linhas de ônibus na mesma região? Cada empresa lucra no seu "feudo" e por aí vai....

Pescaria 3 Político inteligente na Colômbia ?

Lí outra notícia no DC, sobre as eleições para presidente na Colômbia marcada para o dia 30 de maio. As pesquisas indicam Antanas Mockus (oposição pelo Partido Verde) com 38,7 %, o candido da situação Juan Manuel Santos com 26,7 % e Noemi Sanín com 9,8%. O que me chamou atenção foram as idéias de Antanas Mockus. O referido político foi prefeito de Bogotá por duas vezes (1995 a 1998 e de 2001 a 2004), ex - reitor da Universidade de Bogotá com formação em Filosofia e matemática. Como prefeito, criou "o dia sem carros" (só se usam coletivos, táxis ou bicicletas), implementou ciclovias e um sistema integrado de transporte (para quem mora em Floripa, o sistema integrado é fazer escala e esperar o ônibus no terminal, para ele é combinar diversos meios de transporte!). Reconheceu os avanços na área de segurança do atual presidente Uribe, principalmente na luta contra o narcotráfico como uma conquista colombiana que não pode retroceder (seria ótimo se os candidatos reconhecessem coisas que funcionaram nas administrações dos seus adversários, ao invés de se julgarem auto-suficientes e que só eles tem a fórmula mágica das soluções políticas!), defesa do trinômio "a lei, a culpa e a vergonha" como pilares para a conscientização da preservação da vida e de educação para ser incorporado à sociedade. Somente se essas idéias não surtirem efeito é que vem a repressão. Além disso, assumiu publicamente que sofre de mal de Parkinson (enquanto por aqui, os políticos escondem as doenças que tem, com medo de perder os votos!), mas que segundo o seu médico permitiram ao menos 12 anos de saúde, tempo suficiente para uma eleição e reeleição, já que o mandato por lá é de 6 anos.

Pescaria 4 Produtividade acadêmica em detrimento da qualidade!

Artigo no Caderno Mais ! da Folha de SP escrito pelo professor da PUC/SP e psicanalista Renato Mezan faz uma dura crítica a busca da produtividade acadêmica, onde se valoriza mais a quantidade da produção do que a qualidade. Citando que, muitas vezes, as grandes idéias e os grandes avanços científicos levam muito tempo para amadurecerem, e muitaz vezes, o tempo das teses e dissertações pressionam aos pesquisadores para finalizar rapidamente os seus trabalhos. Renato Mezan citou o teorema de Fermat, criado no século XVII e se foi desvendado em 1994 pelo matemático inglês Andrew Wiles, além da obra de Joseph Needham que demorou quarenta anos para escrever a obra "O homem que amava a China" que trata do conhecimento científico dos chineses, mesmo sem produzir um linha em artigos científicos sobre bioquímica, área que era pesquisador. Se fosse pressionado por tempos curtos de teses ou prazos para publicações, a obra certamente não seria a obra-prima que foi. Lembrei de duas estórias que puderam reforçar as idéias de Renato Mezan. A primeira foi quando escutei de um professor de Ciências de Religião num minicurso ministrado em Fortaleza. Na graduação, o hoje professor de Ciência de Religião, na época aluno, disse para o seu orientador, do que ele iria tratar no seu TCC. O seu orientador respondeu que considerava muito longo para o tcc e que deveria guardar para o mestrado. No mestrado, foi conversas novamente com orientador sobre a sua dissertação, seu professor pediu para guardar para o doutorado. No doutorado, já foi logo dizendo para o orientador que iria fazer escrever, se aceitar retaliações e negativas.
A segunda estória, foi do meu orientador, que lembrou que Sócrates não ganharia nenhuma bolsa acadêmica porque não deixou nada escrito. Quem escreveu "A República" foi Platão, o discípulo de Sócrates, colocando os seus diálogos.
É preciso questionar sem dúvida o conceito de produtividade acadêmica, muitas vezes, motivados por busca de pontuações exigidos nos editais para professores nos concursos para Brasil pelo país afora, e não necessariamente pela qualidade.

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